sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Sorrisos de estações



Numa tarde quente de primavera o telefone toca e ela sem muito crédito interrompe seus afazeres para atender. Uma voz conhecida do outro lado lhe faz abrir um sorriso apaixonado, enquanto sua voz tremula tenta passar uma firmeza casual. Ela sentiu o perfume dele, mesmo sem saber onde poderia estar. Queria sentir o pinicar da barba por sobre os ombros no momento em que seria embalada num abraço. O céu mais azul que o costumeiro abrigava um sol vivo, tanto quanto o coração dela naquele momento.

Cantarolou Chico depois. Assoviou desafinadamente e dançou no corredor enquanto esperava a água ferver pra fazer seu chá. Ela ainda não se dera conta, mas estava estonteantemente apaixonada por aquele rapaz. Sonhava com ele dia após dia. Ameaçava escrever cartas e enviar-lhe com uma foto sua e um pouco do seu perfume floral. Mas o bom senso pedia que ela se controlasse. E assim, como manda os bons costumes, a moça fazia.

Ela lembrou das bocas que beijou, das mãos que segurou, dos caminhos que percorreu ao lado de outros homens que jamais lembrariam a doçura daquele rapaz. Ouviu seu riso em lembranças e sem querer corou as bochechas. Queria, naquele exato momento, poder roubar-lhe um beijo e sair correndo pela rua, assim como as meninas dos anos 20.

Com um riso bobo no rosto, ela seguiu o resto do dia e contou ao diário que ele havia ligado apenas para dizer que estava com saudades. O diário sorriu de volta em palavras que ela ainda não conseguira decifrar. Mas aquele sentimento bom de bem querer, misturado à bossa nova que tocava no rádio naquele momento, a fez adormecer sorrindo certa de que sonharia com ele mais uma vez, e que ali, eles seriam inteiros e felizes até o nascer do próximo sol.  

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